skip to main | skip to sidebar

EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Crítica: 'Score: A Film Music Documentary'

Foi assistindo Titanic que pela primeira vez compreendi o impacto que uma boa trilha sonora exerce no telespectador. Na segunda parte do filme, depois que o navio colide com o iceberg, Jack (Leonardo DiCaprio) convence Rose (Kate Winslet) a entrar em um bote salva-vidas. À medida em que o bote salva-vidas vai se afastando do deque, Rose lança um olhar de volta para o Jack, que continua no navio esperando a sua vez (que nunca vem). A cena por si só é triste, mas até então eu não estava tão emocionado a ponto de uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Não foi até a trilha sonora começar a tocar que os meus olhos ficaram marejados, como se eu fosse a própria Rose deixando o Jack para trás. 

Quando a música do James Horner foi inserida na história, aquela cena de Titanic se intensificou e ficou completa. Em Score: A Film Music Documentary, escrito e dirigido por Matt Schrader, o telespectador tem a chance de olhar de perto como compositores esperam chegar nesse resultado através de diferentes processos criativos. Se não via processo criativo, então por espontânea pressão, pois compositores com frequência se deparam na rua com pôsteres de filmes nos quais eles ainda estão trabalhando na trilha sonora. É como se a sua mãe já estivesse convidando toda a família para uma peça da escola em que você irá participar, sendo que o enredo da peça ainda nem se quer foi escrito. Gente como a gente, renomados compositores de Hollywood também executam as suas tarefas na base da pressão.

A dedicação na produção do documentário foi tão grande que o diretor do documentário deixou o seu trabalho na CBS para se dedicar inteiramente a criação de Score. "Sempre me interessou a ideia de como algo sem qualquer letra pode ter um efeito tão profundo em nós", disse Schrader durante uma entrevista para o Hamptons International Film Festival. O efeito da música no cinema mencionado pelo diretor é largamente explorado no documentário, que nos tira da sala de estar e nos leva em uma aventura pelos processos criativos dos maiores compositores de Hollywood. De órgãos sendo tocados em filmes mudos até Hans Zimmer fazendo orquestras soarem como Led Zeppelin, o documentário revisita momentos inesquecíveis do cinema que se eternizaram por causa das colaborações entre grandes diretores e talentosos compositores.

Um das colaborações exploradas no documentário foi a que aconteceu entre o cineasta Alfred Hitchcock e o compositor Bernard Hermman (Psycho, Taxi Driver, Citizen Kane). Antes de se juntar com o Hermman, Hitchcock já havia planejado a famosa cena do assassinato no banheiro em Psycho para acontecer sem música. Ignorando o planejado pelo diretor, Hermman decidiu criar uma música para a cena do crime. Na hora de analisar a cena com a nova trilha sonora, Hitchcock gostou tanto da alteração que aceitou a mudança proposta por Hermman. Em breve, a trilha sonora de Psycho se tornaria o legítimo som do terror. Hitchcock, de tão impressionado com a contribuição de Hermman em Psycho, chegou a afirmar que 33% do efeito do filme tinha sido atingido com a trilha sonora.

Uma ode às obras de compositores premiados, como Hans Zimmer (The Lion King, Gladiator, Interstellar), John Williams (Star Wars, Jaws, Schindler's List) e James Horner (Titanic, Avatar, Braveheart), Score mostra como as trilhas sonoras não apenas alteram um filme, mas também mudam a nossa relação com a música. Os anos se passam e emoções ainda são despertadas quando "A Marcha Imperial" do Williams começa a tocar em Star Wars. O tema de James Bond, criado por John Barry há meio século atrás, ainda influencia a produção de trilhas sonoras para filmes de espionagem. O eeeh-eeeh-eeeh-eeeh do Hermman em Psycho ainda provoca arrepios e inspira o trabalho de outros compositores em filmes de terror. E não é à toa que há um ano atrás quando uma balsa lotada em Santos começou a dar problema alguém colocou pra tocar 'My Heart Will Go On', música escrita, coproduzida e co-editada por James Horner.

Apaixonados por cinema verão no documentário uma chance de olhar mais de perto o processo criativo por trás dos seus filmes favoritos. Os amantes da música poderão assistir o documentário atrás de inspiração ou conhecimento. Os mais chegados numa nostalgia (Alô, Stranger Things?) deixarão o cinema com um sorriso no rosto após terem revisitado tantas cenas clássicas do cinema a partir dos olhos dos compositores.

Score: A Film Music Documentary (2017)
Direção: Matt Schrader
Gênero: Documentário, Musical
Roteiro: Matt Schrader
Duração: 1h 33 m 
Trailer: