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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Resenha: 'Rio Negro, 50' - Nei Lopes

Em 1988, a escola da samba da Mangueira retratou em poucas palavras a trajetória do negro na sociedade brasileira no seu samba-enredo "Cem anos de liberdade, realidade e ilusão": "livre do açoite da senzala e preso na miséria da favela". Quando finalmente foi decretada a abolição da escravatura no Brasil, a ação não foi acompanhada de projetos de assistência ou leis para a facilitação da inclusão dos negros à sociedade, fazendo com que os mesmos continuassem a ser tratados como inferiores e tendo traços de sua cultura e religião marginalizados, criando danos aos afrodescendentes até os dias atuais. 

Durante as décadas que se passaram após a abolição em 1888, os negros no Brasil enfrentaram (e enfrentam) dificuldades para superar a discriminação racial. Em um Rio de Janeiro marcado por preconceito racial, o escritor e compositor Nei Lopes conta as diferentes histórias de "Rio Negro, 50". Localizado no centro do Rio de Janeiro, o Café e Bar Rio Negro é um ponto de encontro de artistas e intelectuais negros que juntos, entre um chope e outro, discutem a situação política, econômica e social do país nos anos 1950, enquanto buscam seu espaço em um ambiente cada vez mais branco e elitizado.

A história, que reúne situações diversas comuns a figura do negro naquela época, gira em torno de um crime ocorrido na manhã do dia 17 de Julho, onde, depois de a seleção brasileira ter sido derrotada na final da Copa de 1950, um jovem negro é confundido com um jogador da seleção e é linchado até a morte. O crime, com fortes conotações racistas, é discutido entre mesas de bares, tomando sua própria forma e mudando de acordo com os preconceitos de quem conta a história. De vítima, o jovem espancado se transforma, conforme a história se propaga, em réu.

Enquanto a Bossa Nova surgia em Copacabana no final dos anos 50, os negros protagonizavam um outro lado da história do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Esse outro lado marcado pela violência tinha artistas negros sendo impedidos de entrarem em festas na Zona Sul carioca e jovens negros sofrendo não apenas linchamentos físicos bem como morais. Em contrapartida, os negros também alcançavam aos poucos o seu espaço na sociedade, vendo a si mesmos representados em jogadores de futebol na seleção, locutores de rádio, artistas de teatro, entre outros.

Embora o livro aborde, de forma ficcional, importantes acontecimentos envolvendo a cultura afrodescendente através de eventos reais como a morte de Getúlio Vargas ou a formação do primeiro clube social da classe média negra carioca, é difícil, em alguns momentos, dizer o que é ficção na obra e o que é real. Os dois lados se cruzam e formam uma história que, ao seu modo, desconstrói preconceitos e mostra uma realidade que deixou marcas e cicatrizes na sociedade brasileira que ainda incomodam nos dias de hoje.

Nei Lopes, através de seu profundo conhecimento da saga dos negros africanos e seus descendentes no Brasil, conta uma história que ilumina e desmitifica preconceitos. O razão para ter escrito o livro pode ter sido outra, mas a obra em sua totalidade me serviu como fonte de conhecimento sobre a causa negra no Brasil e isso, por si só, já fez com que a leitura de "Rio Negro, 50" fosse mais do que apreciada: fosse saboreada. Com seus causos ficcionais e extensa base histórica, Nei mostrou o negro protagonista da história do nosso país de uma forma que nunca eu tinha escutado antes nas aulas de história.

Título: Rio Negro, 50

Autor: Nei Lopes

Editora: Record

Ano: 2015

Páginas: 288



8 comentários:


  1. Que livro super interessante.
    Fiquei fascinada mesmo e super curiosa.

    Preciso ficar rica para comprar mais livros, acabo presa na minha zona de conforto e acabo perdendo algumas boas oportunidades.

    bjin
    www.codinomeleitora.com.br

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  2. Não conhecia esse livro.
    Gosto muito de tramas verossímeis, como essa parece ser, mas quase nunca leio algo parecido.
    Já anotei o título pra quando voltar a diversificar minhas leituras.

    Beijos,
    Gabi - Vida de Bookaholic

    Ps.: Moço, como fiquei tanto tempo sem conhecer seu blog? In love <3

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  3. UAU, que livro, que resenha!!
    Particularmente, não me interesso por histórias assim, MAS, Rio Negro, 50 com certeza é um livro que quero ler, e que muitos deveriam ler também!!
    Adoreii!! Beijos,

    www.notavelleitura.blogspot.com

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  4. Oi,tudo bem?
    As vezes tenho vontade de te matar. O jeito que você fala sobre os livro me deixa bastante curioso pela história e isso faz com que eu fique pobre, porque não consigo parar de ler. ADOREI resenha, foi bem detalhada e conseguiu me conquistar kkkkkkkkkkkk

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  5. Esse livro sai totalmente da minha zona de conforto, não sei se eu conseguiria curtir a leitura. Mesmo assim, reconheço que o tema é interessante e apropriado para discussões. Só não curti a capa, meio apagadinha, não chama a atenção. Sua resenha foi bem completa e instigante.
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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  6. Olá!!!!
    não conhecia o livro mas, puxa fiquei bem curiosa com o enredo. Gosto de ler livros que retratam fatos verídicos da nossa sociedade, anotado a dica ;) bjs
    http://notinhasderodape.blogspot.com.br

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  7. Olá!
    Não conhecia o livro nem o autor, mas a história não me chamou atenção. Dificilmente lerei ele.

    Beijos
    http://www.breakingfree.blog.br/

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  8. Oi!
    Esse livro parece ser bem interessante, mas não é bem o tipo de livro que curto =/
    Mesmo ganhando dificilmente lerei... Mas, gostei bastante de sua resenha, está bem escrita e bastante detalhada como deve ser.

    Bjs,
    Fernanda
    http://blogimaginacaoliteraria.blogspot.com.br/

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