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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

O marcador de texto falou mais alto (ou quem falou mais alto fui eu?)

Se a pouco tempo atrás perguntassem qual era minha opinião sobre marcação de trechos em livros, eu seguramente responderia que não tinha nenhuma discordância no que concerne a prática, desde que ela não envolvesse os meus livros e acontecesse entre quatro paredes bem longe dos meus olhos. O conservadorismo literário amarrado ao meu materialismo latente não me permitiam estabelecer uma relação de vínculo e pessoalidade com os textos que eu lia. O modo como eu compreendia a ligação entre o que o autor se esforçava para dizer e o que os meus próprios sentimentos buscavam entender era momentâneo. O instante de reflexão começava numa dança agitada que logo cessava para dar espaço para as outras danças que ainda estavam por vir na mesma noite de festa.

O materialismo que afirmava a precedência da matéria às minhas próprias inspirações também me impedia de rabiscar os meus livros. Eu no máximo transcrevia minhas reações em algum pedaço de papel que se perderia no esquecimento. O livro, porém, permaneceria intacto em toda sua soberania, pois sua função era a de ser lido e em seguida guardado na estante com os seus outros irmãos, preservado como se fosse um ornamento. O nosso laço, no final da leitura, seria desatado e os sentimentos que nos conectavam seriam atenuados conforme outro livro encontrasse aconchego no meu colo e nas minhas mãos.

As relações literárias estavam acontecendo sucessivas e amenas sem que nenhuma proximidade fosse estabelecida. Decidi, portanto, dar um passo além da zona de conforto e caminhar para o que dei o nome de "os finalmente". Usando o meu marcador de texto esverdeado, avancei o sinal e cruzei as faixas que me separavam de ser mais íntimo do meu próprio livro. O trecho escolhido, embora simples, se destacava pelo profunda força que exerceu sobre mim. O tabu tinha finalmente sido deixado para trás e eu entrava em definitivo para o mundo nada arriscado da prostituição literária.

Desde então, o livro não seria mais um simples ornamento na estante e sim um caso que deu certo. Sendo assim, sempre que eu quisesse, abriria o livro e percorreria os olhos por todas as marcações, lembrando exatamente das minhas reações nos trechos mais importantes para mim. E se no futuro alguém folhear os meus livros marcados,  a história que aconteceu nas páginas além da ficção, a história que foi vivida entre o livro e o leitor, será notada com extrema facilidade por causa das minhas marcações esverdeadas.

O Diário de Anne Frank


16 comentários:


  1. Olá, é mesmo mágico reviver momentos emocionantes de leituras, mas eu ainda prefiro marcar só aquelas etiquetas adesivas (que dá até para escrever comentários por cima), que não anarquiza o livro.

    Samantha M.

    http://www.wordinmybag.com.br/

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  2. Oi Elder, já disse em um comentário anterior que a sua escrita me encantou, lê-se poesia e não apenas palavras no que você tem a dizer. Em relação ao seu texto eu escrevi algo parecido há poucos dias em meu blog, apenas não cheguei tão longe quanto você. Ainda não consegui usar o marcador, mas os trechos estão marcados a lápis para que eu possa voltar e reviver essas lembranças. parabéns mais uma vez, belo texto! http://blogliterata.blogspot.com.br/

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  3. Eu sempre tive vontade de passar o marca texto nos meus livros, mas me falta coragem... muito legal a sua iniciativa para lembrar dos momentos vividos com o seu livro, esse realmente foi um texto maravilhoso *-*

    Seguindo, segue?

    Beijos da Di.
    Parte de Minha História

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  4. Sempre usei post-its, mas um dia cansei e meti o marcador p cima. Foi uma sensação de liberdade afinal o livro é MEU!!! mas ai pensei "se eu for emprestar a pessoa vai ficar perdida, ou achar que é spoiler" ainda uso post-its, tags, essas coisas mas é muito mais prático dar uma riscada nos quotes HAHAHA.

    Abs

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  5. Oi, Elder!

    "(...) o mundo nada arriscado da prostituição literária" ADOREI! HAHAHAHAHAH

    Perfeito o seu texto, apesar de eu ainda abominar o costume de marcar livros. No máximo coloco pétalas das rosas que meu namorado me dá nos mais queridinhos e colo post-its nas partes que mais gosto, mas só.

    Beijão!

    Natalia Leal
    http://www.paginas-encantadas.blogspot.com

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  6. Eu sou daquelas que não consigo ler sem marcar as partes que achei interessante. Acho tão bom quando, depois de um tempo, a gente folheia o livro e relendo as marcações, revive as emoções que sentimos...
    Adorei o texto! Parabéns!
    Beijos

    Aline
    literalizandosonhos.blogspot.com.br

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  7. Nossa Elder,
    fostes radical... partiu logo pro marca-texto LOL
    Amei demais esse post pois estou passando por uma fase semelhante, ainda não me sinto segura em fazer isso com todos os meus livros, pois nem todos despertam aquele sentimento de "vou ficar com esse livro pra sempre" e tem uns que eu sei que, ao final, não vou fazer questão de ter, então acho melhor não marcar para não comprometer minhas “negociações”.
    Contudo, eu sei que o livro é especial quando uma frase, apenas uma frase, faz valer a sensação de ter aquele livro. No momento estou lendo um livrinho de crônicas da Martha Medeiros e outro chamado Norte e Sul, os dois livros já perderam a virgindade de marcação rsrsrs realmente dá essa sensação de que você se conecta melhor com o livro, é gostoso.
    Ainda não li O Diário de Anne Frank, mas só essa frase que você colocou já me deixou com uma sensação diferenciada no coração, certamente deve ser um livro muito especial, ainda mais por se tratar de fatos reais.
    Tua escrita, meu amor cremoso Elderito, como sempre uma coisa... sem igual! Acho que preciso estudar um pouco mais pra conseguir absorver melhor as tuas palavras rsrs é tudo muito lindo! Invejo esse teu jeito de conseguir expressar as coisas.
    Adoro post random, esse foi ótimo!
    Beijão querido, se cuida!

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  8. Sim Elder! Nesse texto você captou exatamente o que eu tento explicar tantas vezes aos que me julgam por marcar meus livros. Eu os marco com orelhas, mas deixo claro que são os meus livros. E mesmo assim pessoas se incomodam e me criticam. Como se o livro fosse delas. Eu não quero livros empoeirados na estante que um dia foram lidos e nunca mais serão abertos. Quero poder voltar a pegar um livro antigo e folheando-o, encontrar partes que me marcaram, que eu marquei.

    Ótimo texto! Isso, se joga no marcador e seja feliz.
    As pessoas que cuidem de seus próprios livros!

    Mari Siqueira
    http://loveloversblog.blogspot.com

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  9. Oi, tudo bem? Então, acho muito importante o ato de marcar citações. No meu caso, sempre que dá saudade do livro o abro e releio aquelas citações que mais me marcaram na hora da leitura. É uma sensação mágica. Entretanto, utilizo post-its, justamente para não "pintar" o livro.

    Abraços.
    Juan Silva - http://asasliterarias.com/

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Por um tempinho, sofri também desse mal de materialismo e apego aos livros. Mas como tive que estudar e escrever em livros, fui me desapegando (ainda assim, fico naquelas de marcar bem direitinho, pra não estragar... e marcado de textos com cheirinho, já viu?). Hoje adoro marcações!
    Beijo!

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  12. Antes de tudo, amei o quote.
    Acho que muitas pessoas acham que livros são preciosos e intocáveis, mas prefiro achar que são meus e refletem meus momentos.
    Acho justo a marcação!
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  13. Oi Elder, adorei o seu post! Nas minhas "andanças" pelos blogs, adoro encontrar textos com conteúdo e minuciosos! Devo confessar que não sou a favor de alterações feitas nos livros - não que eu não saiba valorizar as peculiaridades de um livro cheio de marcações e observações! Acredito que as flags e os postits sejam uma opção bacana para leitores como eu! iuhUIHUihIUHUI

    Te espero lá no Prólogo da Leitura, até mais!!

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  14. OIee! Amei seu texto!!! kkkk
    Mas desculpa... Eu não marco livros... Não sei... Acho que me falta coragem! E muito menos gosto de que, ao emprestar, a pessoa marque... Nada contra quem faz isso... É de se admirar, mas os meus livros são preciosos :D
    Mais, confesso que, você me fez refletir na possibilidade de marcá-los, pois ao reler poderei relembrar por meio das marcações, as sensações que obtive no primeiro momento de leitura!
    Continue escrevendo lindamente!!!
    Beijos
    Ariana Silva
    http://ariabooks.blogspot.com.br/

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  15. Adorei o texto, esse tema é quase um tabu entre os leitores, pois alguns não ligam de marcar seus livros outros não conseguem nem pensar nisso sem sentir arrepios.
    Eu particularmente não gosto, pode ser até uma sensação libertadora, mas prefiro usar tags, principalmente quanto tenho que marcar trechos para resenhas. Acredito que o grande problema está no fato que livros marcados são difíceis de serem trocados e as pessoas sempre querem livros "novinhos". Mesmo que eu não vá trocá-lo, o mantenho sem marcas =)
    Um Abraço!

    Samantha Artes e Books

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