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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Súbita Ventura - Conto

Ter pernas, mas não usá-las. Complicada a situação de quem anda mentalmente, quer seguir, correr, mas não raro consegue uma queda, fruto de algum desequilíbrio, aforismo, empolgação. Era uma vida sem ventos a do navegador. Perdera o controle das suas pernas em um acidente quando descarregava barris, se quer sabia para onde iam os barris, quais eram esse barris, o que de tão importante, pesado, denso podia ter dentro dos barris e que lhe tiraram o caminhar essencial, antes nem tão notado.

Foi em umas igrejas, apegou-se em algumas crenças, fez alguns rituais. Nada que lhe beneficiasse, fazia por conselho, um disse-me-disse, a vizinha da amiga que aprendera uma pajelança com a sobrinha da tia-avó e nada mais.

Queria seus movimentos, era um sonho, sonhos nunca tivera, agora orgulhava o seu caráter pelo sonho solto no ar. Ganhava dinheiro, pensão, alguma espécie de ajuda, indenização, fosse o que fosse, era dinheiro. Auxiliava a vida de forma ociosa, era mais um nada que uma coisa, e ser coisa nem sempre é desejo, neste caso, desde que não fosse nada.

Uma espécie de milagre acontecera, não acreditava nisso, todos falavam e falavam, atribuiu a repentina cura a qualquer milagre. Sim, começou repentinamente a ter seus movimentos. Que disputassem os deuses até conseguir, um que seja, o mérito de curador.

No mesmo instante da glória, levantou-se. Correu nas grandes velocidades, correu, correu, correu e fechou os seus olhos de navegador sem obstinações. Abriu os braços, ainda na correria, e deixou que seus pés lhe levassem.

Ouviu um forte barulho, alguém gritando, a felicidade ensurdecera, buzina atenciosa. A sensação que ainda teve foi de um grande baque, uma forte e intensa batida no meio de seu corpo, caiu inanimado e despediu-se, por ali, com motoristas tentando ajudá-lo, da vida que a pouco recebera novamente.

6 comentários:


  1. olha, como isso daqui tá todo modernoso, rapás! o epitáfio evoluiu, ein!

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  2. ter blog e não atualizá-lo... sei.
    mas tu tens as pernas, o movimento e os sonhos!

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  3. A morte fratura as memórias. Do que vale as preces, o lamento e o pranto, se fizemos-nos ser tão distantes?

    bjosss

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  4. Amei sua maneira de escrever.

    A vida é feita de pequenas (grandes) sensações, quando sabemos aproveitar, dizemos ser milagre.

    Abraço

    Keidy.

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  5. Concordo com a Keidy Lee!
    Ainda assim, ele pode aproveitar a sensação do que ele chamou de milagre, teria ficado triste? Ou feliz por ao menos ter descoberto essa sensação?
    Acredito que ali, naquela pequeno instante, ele soube o que era felicidade.

    ótimo, ótimo, ótimo...

    Abraços.

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  6. "Tu és pó e ao pó reverteres, em verdade é só isso que queres". Me lembrei dessa frase ao ler seu texto...
    A gente caminha e não caminha de várias maneiras na vida e assim parece ser o destino dos errantes. Bom texto!
    Indica algum dos antigos em especial pra eu ler?

    Abraços Élder, valeu pela visita em meu blog!

    http://fabioluisneves.blogspot.com/

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