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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Resenha: 'Call Me By Your Name' - André Aciman

Entre memes e debates políticos, um post da Editora Intrínseca no Facebook despertou a minha atenção. O mesmo dizia que “o filme 'Me Chame Pelo Seu Nome', drama romântico LGBT que colecionou elogios em sua passagem pelos festivais de Sundance, Berlim e San Sebastián, será publicado pela Intrínseca no ano que vem!”

Como o filme já tinha sido exibido em alguns festivais de cinema, decidi ir atrás das críticas para saber se a história merecia a atenção que estava recebendo. Sendo assim, entrei no Filmow e comecei a ler todos os comentários sobre o filme. “O diretor deixou de fora a emblemática cena do pêssego”, dizia um dos primeiros comentários. De imediato pensei: okay, agora tenho que ler esse livro. A curiosidade é inimiga do cartão de crédito, pois no mesmo instante comprei a minha edição de Call Me By Your Name. Se eu soubesse que a leitura seria tão prazerosa, eu teria encomendado o livro antes.

A maior parte da história se passa no ano de 1983 na Itália, quando Oliver, um aluno de doutorado de 24 anos recém-chegado dos Estados Unidos, conhece Elio, de 17 anos. Oliver passa o verão daquele ano com Elio e sua família. No entanto, o que era para ser apenas mais um estudante estrangeiro estagiando para o pai de Elio, transforma-se em uma fervorosa paixão. Escrito pelo autor norte-americano André Aciman, Call Me By Your Name foi originalmente publicado no ano de 2007, ganhando atenção mundial depois de dez anos de sua publicação por causa da adaptação da história para o cinema.

De início, o enredo não parece ter nada de novo ou ousado, mas a temática da paixão é tão comum a todos que é difícil não se identificar com os delírios apaixonados de Elio. A presença de Oliver perturba Elio de uma maneira até então para ele desconhecida. Elio não pode tocá-lo, pois há chances de que o desejo não seja bilateral, mas Elio também não tem coragem para abordá-lo, pois se aproximar de Oliver com objetivos tão definidos requer que Elio compreenda o que está sentindo. Sem inicialmente poder estabelecer um contato físico, Elio se deixa afogar nas suas imaginações.
"Hoje, a dor, o impulso, a emoção de conhecer uma nova pessoa, a promessa de tanta felicidade a apenas dedos de distância, as travessuras que faço para todos os que eu quero e desejo que também me queiram, as barreiras que eu colocava entre mim e o mundo, a vontade de mexer e decifrar o que nunca foi realmente codificado em primeiro lugar - tudo isso começou no verão em que Oliver entrou em nossa casa. Esses momentos estão gravados em cada música de sucesso daquele verão, em todos os livros que li durante e depois da sua estadia, em qualquer coisa, desde o cheiro de alecrim nos dias mais quentes até o frenético chocalho das cigarras à tarde - cheiros e sons que me acostumei e que me acompanham em todos os anos da minha vida, e que de repente se acenderam em mim e adquiriram uma inflexão para sempre colorida dos eventos daquele verão."
A escrita do André Aciman em vários momentos me lembra a do Caio Fernando Abreu, com protagonistas que criam longas situações fantasiosas desencadeadas por gestos pequenos. A maneira como o autor manipula as palavras para expressar a intimidade dos personagens também é outro atrativo da narrativa, que de tão sensual pode fazer até quem está lendo transpirar. Não que eu tenha transpirado, cof, cof.
"Eu queria ouvir a sua janela abrindo, ouvir o som dos seus sapatos na varanda e, em seguida, o som da minha própria janela, que nunca foi trancada, sendo aberta enquanto ele entra no meu quarto depois de todos já terem ido dormir, se aconchega debaixo do meu lençol, tira a minha roupa sem fazer perguntas, e, após me fazer querê-lo mais do que eu achava possível querer qualquer outra pessoa, suavemente se apossa do meu corpo, depois de ouvir da minha boca as palavras que eu ando ensaiando há dias, Por favor, não me machuque, o que significava, me machuque o quanto você quiser."
Não é quase até a metade do livro que, finalmente, Oliver e Elio parecem enfim estar falando a mesma língua. Essa demora no desenrolar da história pode decepcionar alguns leitores, mas a revolução sexual que transborda em Elio é tão instigante que, por mim, o autor poderia ter ficado mais umas cem páginas só na cabeça do Elio, que fantasia e incendeia sempre que Oliver parece saber do poder que sua presença exerce.

No que diz respeito a cena do pêssego, ela não apenas é emblemática, visto que se conecta com outros pontos da história, mas é de um erotismo que consegue atenuar o asco que alguns teriam ao misturar sexo com comida. Na história, o uso do pêssego é tão simbólico que, se o comentário que li no Filmow for verdadeiro, já estou frustrado com o filme mesmo antes de ter assistido. 

No Brasil, o lançamento do livro está previsto para o início do ano que vem pela Editora Intrínseca. O filme, que tem estreia mundial agendada para novembro, já está sendo exibido em alguns festivais pelo país. Os que não tem escolha a não ser esperar pelo livro ou filme, deixo aqui o trailer de Call Me By Your Name como consolação. Se o filme será bom, ainda não sei, mas no que diz respeito ao livro, reler trechos aleatórios depois de finalizada a leitura é normal, ou pelo menos eu gosto de acreditar nisso.


Título: Call Me By Your Name

Autor: André Aciman

Ano da Edição: 2015 

Ano de Publicação Original: 2017

Páginas: 248

Editora: Picador