skip to main | skip to sidebar

EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Crítica: 'Gook'

Em 29 de abril de 1992, quatro policiais brancos foram absolvidos por terem usado de força excessiva no taxista negro Rodney King. A decisão do tribunal abalou a cidade de Los Angeles, aumentando as tensões raciais que já ferviam nas ruas. Gook, escrito e dirigido por Justin Chon, explora este dia através da história de dois irmãos coreanos, Eli (Justin Chon) e Daniel (David So), e uma garota negra chamada Kamilla (Simone Baker), que gosta de passar o tempo na loja de calçados dos dois irmão ao invés de ir à escola.

Uma ponte que conecta negros e coreanos, Kamilla não tem lado no conflito entre as diferentes comunidades de Los Angeles. Quando Kamilla encontra o carro de Eli vandalizado com a palavra "gook" escrita no capô, um termo depreciativo usado para descrever os coreanos, a menina pergunta a Eli qual é o significado da palavra. Entre perpetuar o ciclo do ódio contido na palavra ou explicar o seu significado literal, Eli diz a Kamilla que a palavra tem origem na Guerra da Coréia e que "Me Gook" significa "América", ignorando a conotação racista do termo.

Uma cena simples, porém muito maior do que parece, a explicação do termo "gook" não apenas mostra a amizade entre um jovem e uma menina, mas também faz um panorama sobre as relações raciais na América. Completamente povoado por personagens asiáticos, negros e latinos, Gook oferece reflexões sobre racismo e violência que ainda são de extrema relevância na sociedade norte-americana. Na maioria das vezes, essas reflexões são sutis, como na cena sobre o termo "gook" ou quando Kamilla é supervisionada em uma loja de bebidas pelo proprietário coreano, cena que invoca o assassinato de Latasha Harlins, uma menina negra de 15 anos que levou um tiro na cabeça em uma loja de bebidas alcoólicas após a dona do estabelecimento desconfiar que a menina estivesse roubando alguma coisa. 

Uma das razões de estabelecimentos comerciais de muitos coreanos terem sido invadidos e depredados durante os protestos foi exatamente a tensão entre a comunidade negra e asiática que aumentou após o assassinato da jovem de 15 anos.

Filmado inteiramente em preto e branco, técnica frequentemente usada em fotografia para concentrar a atenção no que está no frame e não em um ponto específico, o filme tira a atenção das cores para centralizar os olhos do espectador na história. A ausência de cores e a manipulação da luz ao longo do filme tornam a história ainda mais crua do que já é.

Igualmente triste e divertido, Gook pode fazer com que os espectadores sintam todos os sentimentos e perguntem todas as perguntas. Vinte e cinco anos após os protestos que abalaram Los Angeles, o filme apresenta ao público a oportunidade de dar uma olhada para trás e ver até onde a sociedade chegou (ou se chegou a algum lugar).

Quanto ao escritor e diretor Justin Chon, fazer essas perguntas parece ser seu objetivo no cinema, pois quando perguntado por Brian Chu do Nerd Reactor sobre seu próximo projeto, Chon respondeu: "Não sei se você já ouviu falar dessas pessoas que viveram aqui 40 anos e porque seus pais não passaram pelo processo de imigração, elas estão sendo deportadas. Espero que esse seja o meu próximo projeto. "

Gook (2017)
Direção: Justin Chon
Gênero: Drama/Comédia
Roteiro: Justin Chon
Duração: 1h 35 m 
Trailer: