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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Do intercâmbio e de sermos instrumentos de transformação

Após as minhas (nem um pouco complexas) observações sobre intercâmbio, cheguei à conclusão de que existem dois tipos de estudantes pós-intercâmbio: o que reclama e nada faz e o que vê na reclamação uma oportunidade de melhoria e parte para o meio de campo (usei uma metáfora futebolística, já mereço algum ponto por esforço).

O primeiro tipo de estudante, o que reclama e nada faz, está sempre falando mal do Brasil, do seu povo e da sua cultura. Esse estudante idealiza o país onde fez o intercâmbio como o supremo em todas as áreas do conhecimento e o dono de toda a superioridade e evolução humana. Ele constantemente ameaça deixar o Brasil, pois na sua cabeça o país "não tem mais jeito", ainda que o mesmo nada faça para que o país "tome jeito" além de vomitar reclamações. Afinal, é mais fácil desistir do que se preparar para a luta.

O segundo tipo de estudante pós-intercâmbio chegou no Brasil cheio de criticismos, observando as diferenças sociais, procurando entender os problemas econômicos do país e assistindo a luta do seu povo. No meio desse cenário, esse estudante se utilizou do seu conhecimento, adquirido através do investimento do governo federal (no caso do Ciência sem Fronteiras), e pôs-se a pensar de que maneira ele poderia começar a ser instrumento de transformação na sociedade. 

Já disse uma vez Caio Fernando Abreu, relatando sua chegada no Brasil depois de uma temporada na Europa: “Vi o Brasil. Eu nunca tinha visto quando vivia aqui. Quero dizer: o punhal cravado no ovo fez sangrar, mas depois desse VER com maiúsculas surgiu a urgência das pedras de Calcutá.” 

O estudante pós-intercâmbio "ideal" busca compreender esse VER com maiúsculas e, através da análise do seu próprio cotidiano e a partir da experiência e conhecimentos adquiridos no exterior, esse estudante inicia uma busca constante por oportunidades de melhoria ao seu redor. Não se atendo apenas a sua área de pesquisa, esse estudante também busca entender a importância da educação de base para que o país gradativamente cresça e se desenvolva. 

Esse segundo tipo de estudante pós-intercâmbio, o que vê na reclamação uma oportunidade de melhoria e ação, entende que possui várias cartas nas mãos que podem ser utilizadas para fazer do país enfim um berço esplêndido. Seja dando aulas gratuitas de inglês, treinando alunos de escola pública para a maratona de matemática ou utilizando de sua área de estudo para, por exemplo, criar um aplicativo que monitora a violência na sua cidade ou que mapeia o transporte público como faz o Google Maps em outros países, o estudante pós-intercâmbio "ideal" não se limita as reclamações: ele reclama, sim, pois se tem algo que a gente gosta de fazer é reclamar, mas ele também parte para o ataque no estilo full Katniss Everdeen.

Se você olhar para si mesmo e achar que você se encaixa nos moldes do primeiro tipo de estudante, o reclamador passivo, então é hora de você começar a se perguntar: "Como posso ajudar o meu país a se desenvolver tendo como ponto de partida o privilégio que tive de estudar no exterior e a oportunidade que me foi dada?" No final, o Ciência sem Fronteiras não passa de um programa empreendedor onde nós éramos e continuamos sendo o investimento.

Se, mesmo com todas as ferramentas que temos em nossas mãos para fazer do Brasil um país melhor, escolhermos apenar reclamar dos altos de nossas janelas enquanto a banda passa, estaremos optando por ser cúmplices do alto de nossa omissão. Não sejamos cúmplices, portanto, sejamos instrumentos de transformação social.

3 comentários:


  1. Acho que o povo reclamador passivo têm de observar que ao reclamar do brasil e de que "ele não tem jeito" é afirmar isso não só sobre o governo mas também sobre o povo brasileiro, é desmerecer a luta desse povo, é ignorar que ele mesmo, o estudante, pode e deve fazer parte dela. E como seria bacana se passássemos a reconhecer as coisas boas que nosso país possui e contribuíssemos todos pra que os setores não evoluídos melhorassem. Se cada um desse migalhas de sua ajuda, seriam milhões de migalhas, o que já seria um avanço grandíssimo.

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  2. Tu és tão maravilhoso, sabe. E não falo da boca pra fora, não. Eu realmente acho que és maravilhoso e gosto de constar.
    Esse teu texto é bem relevante porque detesto esse povo que só reclama e nada faz. Como bem colocaste, todo mundo ama reclamar (eu amo reclamar!) mas as palavras precisam vim acompanhadas de atitudes, ou ideias; aceito até boas intenções. Bem, conheço várias pessoas que foram para o intercambio e voltaram bem irritantes. Já mandei várias voltarem pra lá, inclusive, para logo após debater sobre os prós do Brasil (PQ TEM PRÓS, SIM. NEM TUDO É UMA MERDA) e no poder de transformação que boas atitudes/ideias/intenções podem ter. Sou uma realista esperançosa, meu bem. Vamos lá fazer nossa parte, né? Né.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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