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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Resenha: 'Uma Praça Em Antuérpia' - Luize Valente

Ao contrário do processo de simplesmente pegar o que tá dentro e botar para fora, quando um autor decide escrever um romance histórico, ele se vê obrigado a iniciar uma pesquisa extensa antes de engatar a escrita. A arte do romance histórico está diretamente ligada a habilidade do autor em reconstruir acontecimentos e nos fazer sentir a história. Em busca dessa reconstrução, a autora Luize Valente mergulhou em um dos períodos mais angustiantes da história. Como resultado do seu empenho, nasceu o livro "Uma Praça em Antuérpia", que narra a trajetória de uma família em busca da luz no meio da escuridão que era o crescente antissemitismo na Europa no início da Segunda Guerra Mundial.

A narrativa começa com o amanhecer do novo milênio, quando Olívia Braga é surpreendida em seu quarto pela neta Tita. Ao entrar no quarto da avó, Tita encontra Olívia revisitando suas memórias enquanto observa uma fotografia antiga com a seguinte inscrição: "Antwerpen, Familie Zus, Verjaardag Bernardo, drie jaar, 4 februari 1940." Ao observar a fotografia, Tita identifica a avó mas não reconhece o homem e a criança que a acompanham. Quando indaga a avó sobre os dois estranhos, Tita traz à tona um passado reprimido por Olívia e até então mantido em segredo por décadas: "Antuérpia, família Zus, aniversário de três anos de Bernardo, 4 de fevereiro de 1940."

A história é contada em descontinuidade temporal, a partir das memórias da octogenária Olívia, intercalando-se entre o presente com a neta Tita no apartamento em Copacabana e seu passado em diferentes partes da Europa enquanto fugia da Alemanha nazista. A fotografia encontrada por Tita remonta episódios da vida de Olívia onde o maior luxo que ela e sua família poderiam se dar era viver, pois desde a ascensão de Hitler na Alemanha, Olívia e sua família deram início a uma fuga estafante pela Europa. A partir dos segredos de Olívia, Tita viaja por gerações até os períodos de terror advindos da guerra e conhece, pela primeira vez, quem realmente é Olívia.
"A guerra tinha esse poder de afastar queridos e unir desconhecidos, para sempre."
Narrada em sentenças curtas, a história faz com que o leitor bem cedo desconfie que a autora é também jornalista, pois a narrativa do livro apresenta um texto mais objetivo do que adjetivo. A escolha da autora por períodos curtos, com ênfase nos substantivos e verbos e com pouca adjetivação, pode ser sua forma de tentar mostrar a dura realidade dos judeus e refugiados no período da Segunda Guerra. Quem é mais chegado às vírgulas e conjunções, vê-se órfão no meio de tanto ponto final, de tanta pausa para respirar. São essas pausas para respirar, porém, que fazem com que as experiências de dor e angústia vividas pelos personagens possam ser compreendidas e até mesmo suportadas.

Ainda uma realidade em diversas regiões na Europa, o antissemitismo não foi o único personagem principal no texto, mais do que isso, quando analisada por um outro ângulo, a história pode ser compreendida como um relato de esperança, tanto dos personagens quanto do próprio leitor, mesmo quando ele já sabe o final da história. O quebra-cabeça vai se encaixando ao seu tempo e, como toda boa narrativa, vai despertando no leitor uma curiosidade que provoca sede. A obra, que produz sentimentos híbridos como encanto e angústia, recria a essência de um tempo que deve sempre estar marcado em nossas memórias.


Título: Uma Praça em Antuérpia

Autora: Luize Valente

Editora: Record

Ano: 2015

Páginas: 364

13 comentários:


  1. Olá!
    Até hoje só li um romance história, e apesar de não ser tudo o que eu esperava, até que gostei bastante!
    Infelizmente esse livro não me agradou muito, até porque me pareceu tanto quanto cansativo!
    Mas mesmo assim adorei sua resenha,e concordo com o que falou sobre romances históricos terem uma grande pesquisa por trás!

    Abraços
    http://ummundochamadolivros.blogspot.com.br/2015/04/resenha-ligeiramente-maliciosos-por.html

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  2. Oiiiii

    Amei sua resenha, não conhecia esse livro mas com certeza vou procurar.
    Sou historiadora e me especializei, na faculdade, em segunda guerra mundial. Lia tudo que sair sobre.
    Hoje estou um pouco distante, vejo mais filmes, tem vários ótimos.
    Mas esse livro me chamou muito a intensão.
    Obrigada pela dica

    Dani ( A Estante do Manuel)

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  3. Olá.
    Tudo bom?
    Mesmo lendo sua resenha e gostado de suas considerações, esse livro não me atraiu, não faz parte dos meus gêneros favoritos, mas quem sabe um dia eu possa vir a dar oportunidade.
    Excelente resenha.
    Beijos

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  4. Muito bom saber desse novo livro, ando com saudade de ler romances históricos e principalmente histórias envolvendo holocausto, nazis, etc. Já tem um tempo que li sobre e é bom saber que a autora tem domínio pra falar sobre isso. Parece até que ela já escreveu um livro sobre judaísmo, certo? Enfim, quando passar na Cultura, dou uma lida no primeiro capítulo pra ver se me atrai =)

    Flws

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    1. Olá,

      Na verdade, no site de Editora Record você pode encontrar os primeiros capítulos do livro, segue o link: http://www.record.com.br/images/livros/capitulo_Btoik3.pdf

      Abraço.

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  5. Eu gosto de romances históricos, acho que dão uma visão completamente diferente de uma determinada situação que só conhecemos pelo o que nos é ensinado. Mas não acho que esse livro seja o meu tipo de leitura. Como você mesmo disse na resenha, o livro tem uma característica mais jornalistica dada pela própria autora e acho que essa narrativa me desanimaria um pouco.

    http://laoliphant.com.br/

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    1. Então, estava discutindo sobre isso ainda agora em outro blog. O estilo me causou estranheza no início, mas depois me adaptei e entendi o que a autora quis passar com isso - ou acho que entendi. Eu senti algo assim com Graciliano Ramos, ele é bem mais substantivo que adjetivo, mas como eu prefiro os mais poetas como Hilda Hilst e Caio F. ficou difícil no início mesmo tanta sentença curta e pouco rodeio. Um exemplo cheio de sentenças curtas no livro é esse: "Ele se casara com Josefina, a mulher que amava. O bebê seria o primeiro de uma grande prole. Era o início da colheita das uvas. Prometia ser boa, a melhor em anos. O tempo definitivamente tinha colaborado. " A minha professora de inglês chamava essas sentenças de Choppy Sentences e dizia que elas eram um problema nos textos, mas claro ela estava falando de redações e não de textos literários onde existe a liberdade poética para se expressar.

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  6. Olá,
    Romance histórico não é meu forte, eu não conhecia o livro, achei a capa dele intrigante o que só por aí me chamou atenção, mas lendo a resenha percebi que talvez seja um livro que eu venha a ler algum dia, gostei!

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  7. Oi, ainda não tinham ouvido falar sobre o livro, mas sua resenha me deixou bem curioso, parabéns, já quero ler *------*
    Abraços
    http://litaralmentelivros.blogspot.com.br/

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  8. "Uma praça em Antuérpia". Boa resenha! Estou escrevendo sobre um livro de ficção que também tem elementos históricos. Realmente a parte que engloba a pesquisa é estafante! E fazer sentir por parte do leitor que a história é crível, mesmo sendo uma ficção com recortes de realidade é uma tarefa difícil e que somente os bons escritores conseguem.
    O livro me interessou, o problema é que tem tantos na lista!
    Um abraço, e mais uma vez parabéns pela resenha!
    http://cultura-terraquea.pe.hu/

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  9. Oi, tudo bem?
    Não li muitos romances históricos, mas gosto da leitura quando é um tema que me interessa!
    Histórias retratadas durante a segunda guerra mundial sempre me comovem e interessam muito então fiquei interessada pela história desse livro.
    Gostei bastante do trabalho de capa que a Record fez nesse livro, ficou bem legal.

    Abraço!
    http://www.livrosesonhos.com/

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  10. Gostei da sua resenha. O livro não foi tanto do meu agrado, não gosto muito do gênero, sabe? Nunca li nenhum romance histórico eu acho, não é um tema que me desperte curiosidade... ❤ Abraços! www.ancoradepapel.blogspot.com

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  11. Não conhecia esse livro, mas gostei bastante da resenha
    Livros com algum tipo de conteúdo histórico me encantam
    Não me lembro de já ter lido alguma coisa desse tipo, mas já fiquei bem curiosa
    Já estou seguindo ;)

    Beijos
    http://pocketlibro.blogspot.com.br

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