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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Novo Mundo


Era o quê outrora a imaginação criava, o que a audição desenhava para mim. Mulheres com seus rostos ainda não marcados, pouco nítidos, uns corpos iguais ao que escuto – nas diferenças que minha mãe por vezes ressalta. Diz que são das ancas mais firmes, esparsas e chamativas, nada que de súbito chamasse atenção pelo olhar. Por um momento ignoro o que fisicamente me rodeia e devaneio.

Lembro que pequeno escutei dizer que a alma ficava presa ao corpo e o único deleite que a dita possuía do mundo era pela visão, era pelos olhos, nada mais além, via apenas, sem interagir. Penso em minha alma, que vida essa que lhe dei, merecia condição melhor, mas sabe-se lá o que as complexidades da vida colocaram no caminho meu sem que eu pudesse ver. Sem nunca ter visto.

Talvez eu seja minha alma, minha alma presa no eu criado pelo que ela, ou eu, escutamos. Ou somos distintos presos em um só propósito. Então dizem que depois da morte a alma vai embora e eu fico. Por vezes torço que minha alma seja eu mesmo – não quero ficar por cá não. Mas deve ser isso mesmo, meu eu inteligente nesse corpo que apenas obedece. O que é triste, meu eu minha alma ao mesmo tempo, então eu vivo só aqui dentro realmente.

Mas esses pensares sem fundamentos eu prefiro deixar de lado, me certificarei de descrever a cena curta que ainda me recordo. Haviam uns quadrados imperfeitos também que habitavam pelo chão, todos chamam de rua por essas bandas. E eu andava numa naturalidade, num caminhar tão espontâneo, sentia-me senhor supremo de cada passo meu. E assim era, até que uma comichão, uma coceira danada, aquele incomodo ferrenho e pá!

Um bicho me tirando o sono. Não era a primeira, distante de ser a última vez que tenho meus sonhos interrompidos. Chamei a mãe pra me guiar até o banho, já era dia, arrumei pra escola, numa reminiscência, enquanto ela dava os gritinhos peculiares de mãe. Nessas horas penso que se pudesse escolher, preferiria ser surdo ao invés de cego.

2 comentários:


  1. nossa quanto profundo... banaca, mas a ordem dos fatos se misturam um pouco... deixa o leitor meio que perdido. Mas ta firme.

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  2. "Talvez eu seja minha alma, minha alma presa no eu criado pelo que ela, ou eu, escutamos. Ou somos distintos presos em um só propósito."

    Lindo e verdadeiro.E o que somos que reles almas....
    Saudade de letras tão encantadoras...

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