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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Alucinógeno - Conto


Atrelado aos corpos nus se encantavam uns poucos sentimentos. Cobertor entre cabelos e fumaças, cinzas e cachaças e o próprio corpo coberto pelo fascínio mútuo que as tomava no instante. Envolvimento entre respirações, músculos e a paixão que forte as consumia. Amavam-se como loucas e antigas conhecidas. Tudo ocorria com a normalidade que ocorrem as normalidades. Sem esperar, sem consentir, vivendo apenas e caminhando encontraram com ambas as suas belezas. E enfim as notaram, deram-lhe a atenção e estavam entregues aos seus desejos.
Uma Clarice, outra Eduarda. E assim, amarradas nos seus próprios braços, Clarice por vontade e Eduarda por mais nobre compasso, ficaram por longos minutos. Conversaram, debateram, discutiram o que fazer, o que sentir: o importante era que falassem. Tomavam conhecimento de si mesmas há poucas semanas e já estavam convivendo intensamente. Eram lascívias e dúvidas os seus pensamentos.
Tanto furor surgira recentemente, considerando vida como diminutivo universal. Desenvolveu-se a velocidades incompreensíveis. Estudavam juntas há mais de ano. Encantadas, colocavam na mente a idéia espiritual de antigos encontros, coisas passadas. Estavam entorpecidas por seus infantis, confortantes, sentimentos. No corredor muitas vezes se olharam, no corredor da universidade, no corredor imundo de seus próprios pensamentos. Não se interessavam, ou talvez se interessassem, por nada. Estavam tornando públicas as suas maluquices.
Amaram-se e deixaram de se amar. Viviam um casal. Os olhos cansados do repetido. O corpo entregue as mesmas alucinações. E, quaisquer que sejam as razões, brigas. Clarice deixou a vida acadêmica e dedicou-se aos seus projetos: poesia, fotografia e viagens intermináveis. Eduarda continuava a mesma, porém fria. Tudo não era mais o antigamente. As horas teimam em correr e nos mudam violentamente.
Em uma das viagens com a família, Clarice tomara conhecimento de uma provável traição. Uma de suas conhecidas havia contado ver Eduarda. Um arrependimento amalgamado a novos planos lhe ocupou o restante tempo da viagem. Pensava em tudo a menina, até mesmo escrever.
Telefone tocou, identificara-se, pausa momentânea, e gritam em direção aos fundos: “Eduarda! Alguém no telefone, vem! Depressa!”. Do outro lado Clarice ouviu a gritaria, quis desligar, mas foi mulher. Eduarda , achando quem era, atendeu.
Conversaram, discutiram, queriam se encontrar e encerrar os assuntos. Mas não estavam dispostas, embora a vontade de uma. Aproveitaram os momentos conflitantes e despejaram seus problemas, suas criticas, suas ausências. O amor sempre caminha na direção errada. Choraram, porém, tudo estava feito. A sorte de uma, a sorte de outra. Não havia criaturas tomadas de sofrimento. Apenas um momento a mais. Esqueceram o passado, viveram, desde então, o que tinham de viver.


8 comentários:


  1. Tempo, tempos... gosto disso! Pessoas e seus tempos. É a vida!

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  2. post ótimo! frases que me tiraram do sério de uma forma boa. que me fizeram falar: "puta que pariu!" e isso é uma coisa boa. (:

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  3. É. O tempo muda as pessoas, as situações. O erro? deixar se levar a acreditar que o tempo uma hora pare de ser contado, e isso, bom...isso nunca acontece.

    ótimo conto! Achei todo ele encantador, inclusive o final.

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  4. Queria ter cabeça pra fazer um comentário a altura do post.
    mas caraaaaan, tá massa eu atooorei.

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  5. Será que esse é sempre o fim dos relacionamentos?
    ai, ai, isso me intriga.

    Mas obrigado por me desterritorializar, tirar do lugar comum. eu gosto dessa sensação.
    =]

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  6. Olá,

    Primeiro quero pedir desculpas pela demora na resposta... ri muito com teu comentário sobre a viúva negra:

    "...mulher desiludida com o gênero masculino. xD Brincadeira... mas tem alguma mensagem por trás do tipo "sim, eu sou desiludida e foda-se os homens, eu os uso e depois jogo fora" hein? hein? hein?..."

    Quanto a desilusão... ela não existe, visto que só é possível haver desilusão quando um dia já houve ilusão (e eu nunca tive).


    Teu escrito me lembra uma frase que li ontem: "O amor é mesmo uma confusão".

    Obrigado pela visita!
    Abs, Keidy

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  7. Gosto em especial deste.

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  8. Chokay, Amay !

    espero que Clarisse tenha dado um baile em Eduarda.

    isso daria um belo escândalo no meu Blog (!) hahaha

    adorei o bafon, espero que a Clarisso, depois, tenha saido com as amigas p/ encher a cara (!)

    Felicidades p ela. E parabéns Elder pelo Blog mara.

    Kisses e Drinks
    xxxx
    Safirah Megahfone

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